Mediação entre torcidas organizadas
A paixão
pelo futebol no Brasil é inevitável, não é à toa que nosso país é considerado o
país do futebol, porém com essa popularização do esporte há também o
crescimento das brigas nos estádios, envolvendo a torcida de ambos os times e
essa crescente acarreta a busca por meios de contornar essas intrigas e
encontrar a paz nos estádios.
Por
diversas vezes são noticiadas nos jornais, principalmente após partidas de maior
valor, brigas entre as torcidas organizadas dos respectivos clubes e isso acaba
sendo tendencioso, associando essas torcidas à violência. O que muitos não
sabem é que essas torcidas realizam muitos projetos sociais em busca de
melhorias na sociedade.
Em 2008,
com iniciativa de líderes de torcidas rivais foi criada a FTORJ (Federação das
Torcidas Organizadas do RJ), cujo objetivo era tentar estabelecer a paz entre
as torcidas dos grandes clubes do RJ.
Zé Maria
(2015), um dos representantes da FTORJ, afirma: “Nasceu então a FTORJ,
inicialmente desacreditada por todos. Com tempo adquirimos respeito e
credibilidade com todos. Em termos práticos nos somos os mediadores entre os líderes.”
Com o
passar dos anos, a FTORJ foi ganhando fama nacional, dando idéia para uma
expansão, e em 2014 surgiu a Associação Nacional de Torcidas Organizadas do
Brasil (ANATORG), em estreita parceria com o Ministério do Esporte. Uma das
finalidades precípuas de tais agrupamentos é constituir uma força corporativa,
com capacidade de interlocução
frente aos demais atores do futebol: dirigentes de clube, dirigentes de
federação, jogadores, profissionais de imprensa, autoridades governamentais e
órgãos de segurança pública, entre outros (HOLLANDA; TEIXEIRA, 2017).
Sustenta-se
dessa maneira que a experiência inicial da FTORJ, articulada entre 2008 e 2014,
foi decisiva na atuação das lideranças cariocas e na sua participação em
espaços de discussão apropriados, tais como universidades, audiências públicas
e emissoras de televisão. O experimento desta entidade foi o início de um
processo que contribuiu para o avanço de uma série de entendimentos. As
articulações, por sua vez, estão na gênese do surgimento de uma associação
maior, representada em nível nacional pela ANATORG, que hoje conta com mais de
100 torcidas associadas (HOLLANDA; TEIXEIRA, 2017).
Junto ao
universo jurídico, a mediação constitui um fenômeno sociocultural que produz
interações e trocas. Ele é responsável por criar canais de comunicação, através
dos quais fronteiras mais estanques podem ser cruzadas. Desse modo, mediação
pressupõe relação, conexão, vínculo e se estabelece no intuito de superar
divisões (VELHO; KUSCHNIR, 2001).
Uma curiosidade interessante é o fato de alguns clubes mexerem algumas
peças para promover a paz. Em 1º de março de 2015, o clássico gaúcho entre
Grêmio e Internacional entrou para história. Um setor do Estádio Beira-Rio foi
reservado para uma torcida mista, onde colorados e gremistas puderam sentar
juntos e assistirem a partida lado a lado, sem brigar e discussões, ambiente
propício para levar a família.
Entretanto, sabemos que assegurar um setor do estádio para
torcida mista não é a solução dos conflitos, assim a ANATORG deverá continuar
trabalhando com as mediações entre os grupos, pois como visto na citação acima,
a mediação é de suma importância, estabelece os referidos canais de
comunicação, e com o diálogo pode ser superada as diferenças e a rivalidade
excessiva.
Referências:
BUARQUE DE HOLLANDA, Bernardo;
CÂMARA TEIXEIRA, Rosana. Associativismo
juvenil e mediação política: As torcidas organizadas de futebol no Brasil e a
construção de suas arenas públicas através da FTORJ e ANATORG, 2017.
Disponível em:
<http://www.sudeste2017.historiaoral.org.br/resources/anais/8/1501418937_ARQUIVO_abho_regional_apresentacao.pdf>.
Acesso em 02 de maio de 2019.
Zé Maria in HOLLANDA, Bernardo
Buarque de; MEDEIROS, Jimmy; TEIXEIRA, Rosana da Câmara (2015). A voz da arquibancada: narrativas de
lideranças da Federação de Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: 7 Letras.
VELHO,
Gilberto.; KUSCHNIR, Karina. Apresentação. In VELHO, Gilberto;KUSCHNIR, Karina.
(orgs). Mediação, cultura e política. Rio de Janeiro: Aeroplano, pp.7-11, 2001.
ROGÉRIO LOPES, Flávio. Nas
arquibancadas, a violência ‘joga contra’ o futebol, 2018. Disponível em: <http://www.osaopaulo.org.br/noticias/nas-arquibancadas-a-violencia-joga-contra-o-futebol>.
Acesso em 02 de maio de 2019.
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